segunda-feira, 11 de julho de 2011

TRAUMA RUBRA

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TRAUMA RUBRA





Não pode ver vermelho.
Trauma rubra de infância, herdada.
Vermelho lhe traz lembranças
De fato triste que o marcou pra sempre.
Lembra que da calçada via
O rosto amigo a lhe sorrir do outro lado da rua.
Lembra da alegria e do prazer que se estampavam
No semblante daquele homem amigo.

Não pode ver vermelho.
Lembra dos momentos em que passeavam pela cidade, e ele
apontava-lhe as pessoas, tecendo considerações sobre cada tipo que viam.

 Dizia-lhe dos sacrifícios daquele operário pobre, para manter o seu lar.
Dizia-lhe das dificuldades para viver daquele homem de pele negra que,
Por preconceito  “ porco” da sociedade hipócrita, é renegado, marginalizado e esquecido  da sua condição de irmão.

Falava das histórias que, com saudade, aquele velhinho de feições tristes
E  arrastando os pés, teria pra contar.
Falava,também, daquele menino, maltrapilho e pobre,talvez um órfão, Que corria contente.  ‘’Coitado”, dizia, “é feliz agora, mas que motivos terá
Para sorrir depois?.

Não pode ver vermelho.Lembra que com ele aprendeu a amar as pessoas e a vida com todas  as suas alegrias e tristezas, com todos os seus sucessos e frustrações.

Não pode ver vermelho.
Que falta sente daquele homem que tanto amou!
Ele que o ensinou a amar a Deus.
Ele que o ensinou a respeitar e a tratar a todos com humildade e como irmãos.
Ele que o ensinou tudo o que teria a aprender para ser um homem de bem.
Ah! Grande amigo, só não soube ensiná-lo a esquecer os momentos tristes e, por isso, chora.
Chora de saudades e remorsos quando vê vermelho.
Saudade que ocupou o vazio que ele deixou.
Remorso por sentir-se culpado pelo que aconteceu.

Não pode ver vermelho.
Lembra do amigo correndo em sua direção.
E, logo a seguir, seu corpo estirado.
E chora, ao lembrar o asfalto rubro
Com o rubro sangue do seu querido pai.
Ademir garçon

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